A sanfona se calou em Lajedo, mas a melodia de José Wilton Brito da Silva, o eterno Tuxinha, ecoará para sempre na alma do nosso forró.
Na brisa suave que beija o Agreste pernambucano, um acorde foi silenciado. Nessa última terça-feira, 27 de maio de 2025, o coração do povo Lajedense sentiu um aperto, e o universo do forró perdeu um de seus mestres mais genuínos. José Wilton Brito da Silva, nosso inesquecível Tuxinha Sanfoneiro, partiu aos 66 anos, deixando um legado de acordes que dançaram no tempo e um vazio que nenhuma outra sanfona poderá preencher por completo.
A história de Tuxinha é a história de muitos nordestinos: começou cedo, na labuta e na paixão. Ainda adolescente, já dedilhava sua sanfona no vibrante Circo Barcelona, aqui mesmo em Lajedo, semeando as primeiras notas de uma trajetória que o consagraria. Seus dedos ágeis e sua alma nordestina o levaram a palcos que se estenderam de Caruaru a São Paulo, compartilhando a essência de sua terra em cada melodia.
Ele foi a alma de grupos como o Excitante de Caruaru, a lendária Banda Bárbaros da Bossa, e a inesquecível Banda Pau de Arara, que depois se transformaria em Asas da América. Mas foi ao lado de Jorge de Altinho, por mais de duas décadas, que Tuxinha fincou de vez seu nome no panteão do forró. Era o sanfoneiro que entendia a alma da canção, que sabia traduzir em notas a alegria e a saudade do nosso povo.
Mesmo nos anos mais recentes, quando a vida lhe impôs o desafio da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença cruel e progressiva, a música permaneceu sua razão de ser. Ele liderava o projeto “Tuxinha Forró Pé de Serra” e continuava a encantar com a Banda Beijo Molhado, mostrando que a paixão pelo forró de raiz não se apaga.
A notícia de sua partida, após adoecer e ser internado na última segunda-feira, dia 26, reverberou como um baque forte no peito de músicos, amigos e incontáveis fãs. As memórias de sua imensa contribuição para a cultura popular nordestina se aglomeram, repletas de carinho e reconhecimento. Um colega, com a voz embargada pela emoção, descreveu-o com a precisão de um epitáfio: “um mestre da sanfona e um defensor da música de raiz”.
Tuxinha não se foi sem deixar marcas. Sua sanfona silenciou, é verdade, mas a melodia de sua alma e a energia de sua arte continuarão a tocar em cada forró que se dança, em cada lembrança de um tempo onde a música era mais que som: era um pedaço vivo da nossa gente.
A saudade fica, a melodia permanece. Descansa em paz, mestre Tuxinha.