General Bolsonarista Compara Plano de Assassinato de Autoridades a “Pensamento Digitalizado” em Investigação de Trama Golpista

25 de julho de 2025

Em depoimento ao STF, militar e outros investigados na operação que apura tentativa de subverter a ordem democrática negam envolvimento em crimes, mas confirmam detalhes cruciais das apurações.

Brasília, DF – A investigação sobre uma suposta trama golpista ganhou novos contornos com depoimentos recentes no Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo a declaração controversa de um general alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele comparou um plano de assassinato que envolvia figuras como o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes a um “pensamento digitalizado”, gerando repercussão no cenário político.

O general, cujo nome não foi especificado no relato, afirmou que o “arquivo digital” em questão era um estudo de situação e análise de riscos que ele, por costume, decidiu digitalizar, garantindo que “não foi compartilhado com ninguém”. Apesar de sua alegação, as investigações apontam que o documento chegou a ser impresso nas dependências do Palácio do Planalto, fato que ele confirmou, justificando a impressão para sua leitura pessoal. O militar é apontado como parte do “núcleo dois” da trama, responsável por elaborar estratégias para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota eleitoral de 2022.

Outros Depoimentos Chave na Investigação

A mesma sessão de interrogatórios ouviu outras figuras importantes na apuração:

  • Coronel da reserva Marcelo Câmara: Ex-assessor de Bolsonaro, admitiu ter monitorado o itinerário de Alexandre de Moraes. No entanto, tentou minimizar a ação, classificando-a como um “gesto político” com a “finalidade de aproximação”, sem intenção de criar constrangimento. Câmara alegou que as informações eram superficiais e destinadas a conversas com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
  • Filipe Martins: Ex-assessor especial de Bolsonaro, negou qualquer vínculo com a polêmica “minuta do golpe”, que previa uma intervenção no Poder Judiciário. Martins afirmou ter tido notícia do documento apenas pela imprensa e que não teve contato com ele “antes, e nem durante o processo”, referindo-se à minuta como uma “minuta fantasma”. Ele também negou ter acompanhado a comitiva presidencial para os Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022, versão que foi confirmada por Mauro Cid.
  • Silvinei Vasques: Ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), defendeu as operações nas estradas durante o segundo turno das eleições de 2022, alegando que o objetivo era evitar crimes eleitorais. No entanto, ele é acusado de ter ordenado blitze que teriam dificultado o voto de eleitores de Lula em regiões estratégicas.
  • Marília de Alencar: Única mulher acusada e ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, reconheceu ter solicitado um estudo sobre locais onde Lula e Bolsonaro obtiveram mais de 75% dos votos. Contudo, alegou que os dados não foram repassados à PRF e que a motivação era apurar possíveis compras de votos e atuação de facções criminosas.
  • Fernando Oliveira: Então secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF, no contexto dos ataques de 8 de janeiro de 2023, reconheceu falhas da Polícia Militar na contenção dos ataques. O delegado da PF, que também atuava na pasta, é acusado de omissão e de envolvimento nas blitze eleitorais, operações que, segundo ele, foram ampliadas a pedido do então ministro Anderson Torres.
  • Marcelo Bormevet: Ex-agente da Abin e membro do “núcleo quatro” da investigação, negou ter recebido ordens para espionar adversários de Bolsonaro. Ele e outros investigados são suspeitos de integrar uma estrutura paralela para coleta de dados e difusão de desinformação, incluindo um relatório fraudulento sobre urnas eletrônicas encomendado pelo PL ao Instituto Voto Legal. Carlos Rocha, presidente da entidade, negou que o relatório tenha incentivado ataques à integridade do processo eleitoral.

Outros militares ouvidos – Ailton Barros, Ângelo Denicoli, Giancarlo Rodrigues, Guilherme de Almeida e Reginaldo de Abreu (chefe de gabinete de Mário Fernandes) – também negaram envolvimento na trama golpista.

Os interrogatórios foram conduzidos por videoconferência por juízes auxiliares do STF, não pelo ministro Alexandre de Moraes diretamente. Ao final da audiência, a Corte intimou as defesas a apresentarem diligências complementares em até cinco dias, incluindo pedidos de novas oitivas, acareações ou juntada de documentos.

Ao avançar nessa fase processual, o STF busca lançar luz sobre a participação de diversos agentes na tentativa de subverter a ordem democrática. Enquanto isso, o núcleo central da trama, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, segue sendo investigado em processo separado.

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